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COMÉRCIO NO PARÁ - COMÉRCIO EM BELÉM

A Rua João Alfredo (Belém)

O ponto de partida para o desenvolvimento da cidade de Belém foi o Forte do presépio. Em meados de 1650 as primeiras ruas foram surgindo, sendo quase todas paralelas ao rio. No inicio do século XVIII Belém estava dividida em dois bairros: da Cidade e da Campina. A cidade era plana, com ruas estreitas e irregulares. A rua mais larga aberta até 1784 no bairro da Campina era “Rua dos Mercadores” cujo nome foi dado, pois estavam localizados os principais comerciantes. (CRUZ, 1971).
Depois, a Rua dos Mercadores passou a ser chamada de “Rua da Cadeia” recebeu essa denominação pelo fato de estar situado o presídio da cidade, localizado nos baixos da Casa da Câmara. Por volta de 1870 recebeu o atual nome “Rua Conselheiro João Alfredo” para homenagear o então presidente da província do Pará João Alfredo Correia de Oliveira. (CRUZ, 1992).
Deste modo, o bairro da campina foi se configurando a partir da atual Rua Conselheiro João Alfredo se consolidou como centro da zona comercial, com variado sortimento de mercadorias em suas lojas. Devido a essa variedade de coisas, atendia não só a população local, mas também pessoas de outras regiões da Amazônia. (CRUZ, 1973).
Na metade do século XIX a “Conselheiro João Alfredo” já comportava sua vocação comercial e em função da exportação da borracha passa por melhoramentos em sua infra-estrutura. Durante a gestão de Antônio Lemos, a cidade foi saneada e a maior parte das ruas do Comércio e da Cidade Velha foram calçadas com paralelepípedos de granito.
O período de 1880 a 1910 (final do século XIX e inicio do Século XX) foi conhecido como o período áureo da riqueza advinda da extração e comercialização da borracha, a Belle Époque. Logo, foi uma época de euforia social e cultural que tomou conta do estado do Pará e também a era de maiores intervenções nas cidades com a finalidade de modernizá-las e assim preencher os anseios da nova elite paraense.
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A Rua João Alfredo entrou nesse processo de modernização, tornando-se um espaço onde a burguesia amazônica desfilava sua riqueza. Nesse contexto, essas elites foram introduzidas na dinâmica do mercado mundial e a cidade de Belém do Pará ganhou novos contornos tornando-se um “empório comercial” da bacia amazônica. (DAOU, 2004, p.24).
Devido a esse remodelamento da cidade, também foram introduzidos “novos hábitos de vida” e camada mais abastada, enriquecida pela borracha, passou a construir residências com azulejos de Portugal, inspirações no art nouveau, colunas de mármore e demais referências francesas. (SARGES, 2006). 
Com a cidade embelezada, a Rua João Alfredo passa a ser uma passarela de vestidos de luxo, feitos com as mais caras fazendas. A moda então passa a refletir esse ideário de modernidade e o vestuário passou a ser um dos itens mais caros. 
Segundo Sarges (2002 apud SOUZA, 1987, p.29) “o século XIX com o advento da industrialização e da burguesia gerando um novo estilo de vida, estimulou um desejo pelas inovações e gosto pela imitação, tornando a moda um fenômeno democrático”. Nesse sentido a moda é um fenômeno cultural, social e estético que busca captar as sutilezas ligadas às mudanças sociais e refleti-las no vestir.
A autora ainda aponta: Na cidade de Belém do século XIX, mulheres das classes abastadas tinham um zelo especial pela indumentária, tanto que mandavam buscar seus vestidos em Londres e/ou Paris. Para resolver essa questão, estabelecimentos comerciais se instalaram para atender o requinte de damas e cavalheiros. (Ibid., p. 29)
Destarte, com a modernização do comércio, em 1870 começam a surgir os primeiros grandes magazines na capital paraense, que ofertavam principalmente novidades da moda vindas de Paris (BONADIO, 2007, p.58). Um desses magazines é o Paris N’ América, localizado na Rua Santo Antônio (continuação da Rua João Alfredo) erguido no auge da economia do látex, sendo referencia de compras de artigos de vestuário para as damas da cidade.
Além dos grandes magazines, surgem as “casas” especializadas em produtos de vestuário importados sempre utilizando os termos “elegante”, “moderno” e “chique” nos anúncios publicados em jornais da época. 
A Rua João Alfredo, então, se consolida durante o período do ciclo da borracha como centro de compras da elite belenense. Porém, com o declínio da economia gomífera, em princípios do século XX, muitos estabelecimentos fecharam suas portas ou mudaram o segmento de seus produtos.
Ainda assim, apesar da crise econômica havia uma circulação intensa de artigos de moda na vida cotidiana da belenense. Esse fato é confirmado a partir da análise de anúncios de lojas em periódicos a partir de 1915. Deste modo, a Rua Conselheiro João Alfredo continuava a ser um centro de compras de vestuário e acessórios.
Conforme anúncios como o do jornal A Palavra (1918), diversos estabelecimentos comerciais estavam em pleno funcionamento na Rua Conselheiro João Alfredo. A “Casa Guerra”, por exemplo, oferecia variedades de produtos de vestuário, como chapéus, flores e enfeites. Veiculava seus anúncios nos jornais locais, usando um discurso convidativo: “Casa Guerra, a casa onde todas compram”.
Logo, de acordo com a pesquisa dos anúncios, pode-se afirmar que ainda na segunda metade do século XX, a antiga Rua dos Mercadores manteve-se como cenário de sociabilidade e de abastecimento de produtos do vestuário feminino.
Mudanças no comércio a partir da metade do século XX Na década de 1960 a rua tinha como frequentadores a geração jovem, “os brotinhos” que andavam em turmas e desfilavam as ultimas novidades da moda (BAENA; HAGE, 2012). Segundo Sodré (2005, p.31) A Rua João Alfredo era um dos principais “points” de encontro e a poluição sonora, diferente dos dias atuais, era quase inexistente, assim como a população de vendedores ambulantes era diminuta.
No entanto, ao final dos anos 60 devido a um considerável aumento populacional (IBGE, 1950) e ao aumento da criminalidade, a Rua João Alfredo foi sendo ocupada por outros personagens como os ambulantes e moradores de rua. A sujeira e a poluição visual também começou a tomar conta do lugar e a infra-estrutura do espaço já se encontrava em péssimas condições.
A partir da década de 1980, o centro comercial de Belém perdeu sua projeção como lugar de lazer e compras da camada mais elitizada. Nessa época outros padrões de comportamento e modo de vestir iam se estabelecendo na nova organização da cidade de Belém. 

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Nesse contexto, um novo centro comercial surgira em sentido transversal ao centro comercial antigo: a Avenida Presidente Vargas, chamada primeiramente de 15 de Agosto. Essa nova avenida, mais moderna e mais larga se caracterizou por ser um centro de negócios, instalando o prédio do Banco Central.
Este novo centro de Belém, bem individualizado também passou a ser área residencial quando aparecem os primeiros prédios modernos, arranha céus e grandes hotéis. Nesse limiar, um moderno centro de compras passa a existir: a Avenida Brás de Aguiar, local onde se instalaram boutiques e construídas as primeiras galerias de lojas e “small shoppings” da cidade se estabelecendo como o novo “point” da moda paraense até a década de 1990.

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