“Curiosidade; Os indígenas extraem o sumo das raízes da Vitória Régia (uma tintura preta) e usam-no para pintar os seus cabelos. Suas sementes, comestíveis, servem como alimento para homens e aves"
Vitória- Regia foi inserida no livro Guinness dos registros como "a maior planta na terra”. E recebeu essa denominação do botânico inglês John Lindley, em homenagem à rainha Vitória, do Reino Unido, no século XIX, quando uma expedição á Amazônia de que ele participava, levou sementes da planta para os jardins do palácio da rainha. A vitória-régia também é conhecida como jaçanã, irupé, uapé, aguapé e nampé entre os índios e os caboclos da região amazônica.
As enchentes e inundações do rio Amazonas beneficiam muito a Vitória-régia. À medida que as águas vão subindo, crescem também os seus pecíolos [hastes]. Por vezes, eles ficam longuíssimos, medindo até cinco metros de comprimento. Caso o nível das águas permaneça alto, a vitória-régia viverá cerca de dois anos; mas, se as águas baixarem, ela, aos poucos, irá sucumbindo.Suas flores brotam nos meses de janeiro e fevereiro, e duram apenas 48 horas, abrindo somente à noite e apresentando cores brancas no primeiro dia e rosadas no segundo e final dia, com várias camadas de pétalas. Suas pétalas podem ainda atingir até trinta centímetros de diâmetro e, no meio delas, encontra-se um botão circular onde estão localizadas uma grande quantidade de sementes, que irão se depositar no fundo das águas, a cada mês de agosto.
Em relação à vitória-régia, no Norte, existem vários mitos e lendas que são narrados por sábios pajés e índias idosas. Reunidos à noite, eles repassam, oralmente, a sua cultura milenar. Alguns contam, por exemplo, que tudo começou com a índia Naiá. Ela era apaixonada pela Lua - considerada um deus masculino, um jovem e bonito guerreiro - e não aceitava namorar os outros índios. Passava as noites correndo pelas matas, perseguindo o noivo celestial, e não havia poção milagrosa capaz de curá-la de tal obsessão.
Certa vez, estando à beira de uma lagoa, Naiá viu a imagem do seu amado refletida nas águas. Sem titubear nem um segundo, mergulhou ao seu encontro e morreu afogada. Sensibilizada com o fato, a Lua procurou compensar o sacrifício de Naiá, e transformou-a em uma estrela das águas, um verdadeiro poema de beleza e perfume. Depois disso, dilatou a palma de suas folhas, para que pudessem receber melhor os afagos de sua luz. E, para acolher os raios de luar - em verdade, os seus beijos apaixonados - a Lua fez com que as flores da vitória-régia abrissem somente à noite, exalando um aroma maravilhoso.
Outra versão dessa lenda, dizem que a Lua tinha poderes extraordinários para transformar as índias em estrelas. E havia uma índia que desejava muito se transformar em uma estrela, para poder ficar mais perto da Lua, sua grande paixão. Tentando alcançá-la, subia nos morros e montanhas chamando por ela: Iaci! Iaci! Porém, todos os seus esforços eram inúteis. Certo dia, a índia percebeu não somente o reflexo da Lua, como ouviu o seu canto, oriundo das profundezas das águas. Crendo ser o amado lhe chamando, atirou-se no igarapé e nunca mais retornou à superfície. Compadecida com a sua falta de sorte, a Lua transformou-a, então, em uma bela estrela d´água na Terra.
Além de conter beleza e perfume, a vitória-régia possui uma raiz - um tubérculo parecido com o inhame - que é consumida pelos nativos em sua alimentação. Eles chamam-na “forno-d’água”, por sua semelhança com um tacho de torrar farinha.
É interessante registrar que as cápsulas da vitória-régia, repletas de sementes, vão se depositar no fundo das águas, a cada mês de agosto. A partir daí, na medida em que recebem a ação dos raios solares, elas se enterram no lodo cada vez mais e endurecem. Tais sementes representam uma fonte de alimento para os índios. E as aves da região também as apreciam. Estas últimas, por fim, voando em bandos, espalham as sementes da vitória-régia por todos os lugares onde passam. Dessa maneira, elas perpetuam a existência da rosa lacustre: a mais linda deusa vegetal e estrela das águas.
Semira Adler Vainsencher/ Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco/ Fotos egort.comunidades.net / Copyright 2016 © CAMINHOS ALMA GORT
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