Em 1986, Juruti iniciava a realização de um Festival Folclórico nascido, em verdade, do desejo de preservar as tradições histórico- culturais do município. Em julho de 1999, o XIV Festival alcançou o status de maior evento do gênero em todo o Oeste do Pará, trazendo como grande atração o encontro de duas "tribos" _ Muirapinima e Mundurukus - e o anúncio da criação do "Tribódromo", onde deverá ser encenado o evento no ano 2000, reunindo um público não inferior a 10.000 pessoas.
Textos: Walbet Monteiro
Fotos: Geraldo Ramos |
A Festa das Tribos, como se tornou conhecido o grande evento jurutiense, é realizada no último final de semana do mês de julho de cada ano. Embora apresente, nos dois primeiros dias, quadrilhas juninas e outros grupos de dança, o ponto alto é a exibição das duas facções que homenageiam a cultura indígena. O município, no passado, abrigou um disperso núcleo de índios da nação Munduruku, catequizados pelo padre Manoel de Saches e Brito. Inicialmente despretensiosa, a promoção obteve tanto sucesso que transformou-se, ao longo dos anos, no principal acontecimento cultural de Juruti, atraindo para a pequena cidade do Baixo Amazonas os habitantes dos municípios vizinhos, inclusive da amazonense Parintins já consagrada pela sua "festa do boi".
Aliás, é muito grande a influência de Parintins na Festa das Tribos a começar pela marcação rítmica das toadas, muito semelhante uma da outra e pela exigibilidade do silêncio da torcida adversária quando se apresenta o grupo oponente. Os simpatizantes da tribo Muirapinima se referem aos adversários como "os do avesso". Já os adeptos da tribo Mundurukus chamam seus oponentes de "errados". Em Parintins ambas as torcidas chamam a outra de "o contrário". Mas ninguém espere encontrar outros pontos de identificação: o espetáculo de Juruti é ímpar na sua peculiaridade de exibição das tradições indígenas, como forma de induzir as pessoas _ notadamente os jovens _ a conhecer e reverenciar o legado cultural dos antepassados índios, revivendo suas tradições, cantos e rituais míticos.
A Festa das Tribos, para atingir o brilhantismo na apresentação dos dois grupos concorrentes, utiliza todo o potencial dos artesãos locais, valorizando sobremaneira a sua criação artística. Consegue, assim, a intensa participação de toda a população desde que são iniciados os preparativos dos Mundurukus e Muirapinima.
Segredos são bem guardados
A cidade é pequena. Todos se conhecem. As alegorias são gigantescas e geralmente preparadas na rua e as fantasias em diversas residências. Não obstante, há segredos envolvendo o desfile e que são guardados com "segurança máxima".
A trajetória das Tribos
O primeiro encontro das duas tribos ocorreu em 1995, durante o X Festival Folclórico. Nos eventos precedentes eram apresentadas quadrilhas, bois-bumbá e outros grupos de danças folclóricas. A primeira "tribo" fundada foi a dos Mundurukus. Um grupo de jovens, liderados por Adercias Batista, Carmen Barroso, Tim Tones Batista e Edvander Veiga, a partir da constatação das deficiências no quadro cultural do município e de que era necessária uma apresentação forte e inovadora para tornar mais atrativo e consistente o festival folclórico, decidiu criar a Tribo Munduruku's, onde ficassem revividas as crenças, lendas e rituais dos primitivos habitantes de Juruti. Para esses jovens a riqueza cultural de um povo parte da premissa de que este deve conhecer-se a si próprio, a partir de suas origens. Os Munduruku pertenciam ao tronco tupi e foram havidos como os mais guerreiros da região, hostilizando todos os grupos vizinhos. Eram numerosos e indivíduos de alto porte sendo conhecidos como "paiquicês" (ou seja, "cortadores de cabeça"). As cores da tribo moderna, defendida pelos jovens juritienses, são o vermelho e o amarelo.
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A rivalidade une a população em torno do trabalho. Não existe, atualmente, nenhuma família em Juruti que não tenha sua opção "tribal". E todos se dedicam ao trabalho de confecção de fantasias e alegorias com igual entusiasmo. A cidade centraliza suas atividades e emoções para a grande "Festa das Tribos".
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