No aniversário de 401 anos de Belém não pode faltar comemoração ao som de carimbó, em uma roda de dança marcada pelas batidas dos tambores e pelas saias rodadas. O ritmo é a cara da capital paraense e recebeu oficialmente o título de Patrimônio Cultural Brasileiro, em 2015, concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Os charmes da Cidade das Mangueiras são cantados em muitas letras de carimbó e “Depois da Chuva”, do Pinduca, é só um de muitos exemplos.
Raimundo Jacir. Foto: Akira Onuma/ O Liberal |
O carimbó faz parte da história e da cultura de Belém, bem como da vida do mestre Thomaz Cruz, 56, que viu o pai, mestre Zito Nunes, fundar uma das primeiras rodas de carimbó de Icoaraci, na época ainda Vila do Pinheiro. Ele lembra que seu primeiro contato com o ritmo foi aos oito anos e hoje ele vive do carimbó, tocando no grupo “Os Africanos de Icoaraci”, e do artesanato. Para ele, o carimbó é uma expressão artística e um estilo de vida. “Um dia desses comemoramos o aniversário de 100 anos da minha mãe e a roda de carimbó em casa varou a madrugada. Ensaiamos todas as semanas e sempre tem alguém que para pra ouvir e dançar”, conta.
Junto com o grupo, ele toca em pontos turísticos e casas de show, mas também sai divulgando a cultura popular tocando em ônibus, praças e feiras. Ele diz que gosta de tocar o carimbó de raiz, de pau e corda, e que desde o reconhecimento do Iphan, os grupos começaram a receber mais atenção. No entanto, isso não significa que recebem o apoio necessário. Para ele, Belém está indo na contramão da valorização do carimbó.
“Belém precisa melhorar em muitas coisas e uma delas é a valorização da sua cultura. Sei de amigos que foram proibidos de tocar carimbó na rua e em praças, no espaço público. Me preocupo muito que essa cultura se perca, já estou de olho em pessoas que tem interesse em aprender para eu ir passando o conhecimento”, afirma. Apesar de reconhecer o mestre Verequete como um dos nomes mais importantes para a divulgação do ritmo, ele aconselha o público a pesquisar sobre outros mestres de Marapanim e Bragança.
Mestre Thomaz gosta de compor sobre Belém e fala especialmente sobre o Círio de Nazaré em algumas letras, mas atualmente está sem recursos para gravar um CD. Também em Icoaraci, a poucas ruas da casa de Thomaz, vive o mestre Raimundo Jaci. Aos 64 anos e tirando o sustento da pesca artesanal, o carimbó é um dos prazeres da vida dele. A ligação com o ritmo surgiu aos 21 anos, quando foi o primeiro vocalista do tradicional grupo de carimbó “Os Irmãos Coragem”, fundado por familiares e amigos.
Somente em 2000 realizou o sonho de formar o próprio grupo de carimbó pau e corda, “Os Caçulas da Vila”, que mantém até hoje. Para ele, falta incentivo para quem luta para manter a tradição do carimbó viva. “Mesmo com a mobilização para que fosse reconhecido como patrimônio, não está tão valorizado como deveria. Acho que Belém não está batendo em sintonia com os mestres do carimbó. Falta apoio tanto do governo quanto privado, dos próprios habitantes da cidade”, comenta.
As memórias da infância na ilha de Mosqueiro e às margens do rio Mari-Mari já viraram letra de carimbó em uma de suas composições preferidas. No aniversário de Belém, ele deseja mais “sorte” para a cidade. “Que o povo olhe mais pelos grupos que levam essa cultura. Meu sonho é chegar mais longe do que estamos hoje. É ver todos os mestres crescendo”, completa.
Font: ORM
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