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IGUARIAS PARAENSES E HÁBITOS À MESA SÃO DE ORIGEM INDÍGENA

Tacacá, maniçoba, farinha de mandioca, peixe seco, churrasco, urucum, açaí, pimenta, cravo amazônico, castanha-do-Pará. Você já imaginou nunca mais experimentar nenhuma destas iguarias paraenses? Pois é, você jamais saberia o sabor de nenhuma delas se não fosse a influência dos povos indígenas na região. Eles descobriram frutas, domesticaram plantas, converteram-nas em ingredientes e criaram pratos complexos e requintados.
Para o antropólogo e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFPA, Romero Ximenes, a presença indígena e sua influência na culinária regional afetou definitivamente a identidade, ou seja, o conceito de ‘ser do’ ou ‘pertencer ao’ Pará.

O que vai à mesa define o paraense - A expressão “papa-chibé”, por exemplo, é utilizada como sinônimo de “autenticamente paraense” e indica um “comedor de derivados da mandioca”. “Aliás, a identidade no Pará se constitui pela comida e não pela ‘raça’ ou pela região. Lembre-se do ‘Chegou ao Pará, Parou. Tomou açaí, ficou’, traduzido: ‘Gostou da nossa comida? Tornou-se paraense!!’. Não construímos a nossa identidade pelas marcas indígenas, mas, sim, por meio das suas obras: a nossa comida”, sinaliza o antropólogo.
Além da “descoberta” de ingredientes e da invenção de pratos e dos acompanhamentos elaborados, como a maniçoba e o tacacá ou a farinha de mandioca, os povos indígenas ainda influenciam a maneira de cozimentos dos alimentos.
Caldos, churrascos e bebidas também são heranças indígenas - “Os grupos que conhecem a cerâmica podem comer alimentos cozido, caldos etc. Os que não usam a cerâmica são os comedores de churrascos”, conta Romero Ximenes. “As técnicas de moquear são indígenas, e de beber guaraná e açaí são, igualmente, invenção dos índios. O anil usado como medicamento e corante também (...). Misturar carnes com folha de mandioca é tradição indígena”, aponta. Além disso, “um conjunto importante de bebidas, como aluá, pagirola, caxiri, cauim, caicuma, tiquira, tarubá, é oriundo da tradição indígena”, relembra Romero Ximenes.
Para o pesquisador, devemos reconhecer esta presença cotidiana e o permanente intercâmbio cultural com as populações indígenas e, a partir deste conhecimento, valorizá-las ainda mais. “Talvez amemos a criação, porém negamos/ignoramos os criadores indígenas”, considera.
No entanto ele ressalta que essa “transferência de tecnologia e cultura culinária” não é simples e ocorre sempre em mão dupla. “Todo alimento, quando migra, acaba se convertendo à cultura hospedeira. O chocolate é indígena. Sai das Américas bebido líquido, quente, amargo e apimentado. Na Europa, tornou-se um tablete doce, adoçado com açúcar americano. O açaí virou milk-shake nos Estados Unidos”, cita o antropólogo.
Texto: Glauce Monteiro – Assessoria de Comunicação da UFPA
Foto: Alexandre Moraes

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