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A ARQUEOLOGIA NO PARÁ: TAPAJÔNICOS, MARAJOARAS E OUTROS POVOS


De acordo com a pesquisadora Denise Pahl Schaan, do museu Goeldi e professora visitante da UFPA, existem vestígios arqueológicos de ocupação humana no Pará que datam de cerca de 10 mil anos em grutas da região de Carajás, e de 11 mil anos no sambaqui da Taperinha, próximo a cidade de Santarém, no baixo Amazonas.


(Prainha(PA) - Serra da Careta - arte grávida?
Foto: Marcos Jorge - Divulgação)

Essas populações eram compostas de caçadores-coletores que viviam de forma mais ou menos nômade, em bandos, movendo-se de um lado para outro em função da disponibilidade de caça e coleta. Elas produziram instrumentos de pedra, como pontas de flecha e lança para a caça, e marcavam seus territórios através de inscrições sobre rochas e pinturas sobre paredes de abrigos e cavernas. Estes registros rupestres, que vem sendo estudados pela Dra Edithe Pereira, arqueóloga do Museu Goledi, são encontrados em diversas regiões do estado do Pará, como as bacias dos rios trombetas, Araguaia, Tocantins e Xingu, além dos municípios de Alenquer, Prainha e Monte alegre, entre outros. Esses sítios não foram, ainda, todos dotados, mas se imagina que tenham entre 6 e 10 mil anos.

As primeiras sociedades sedentárias de que se tem conhecimento são aquelas dedicadas à exploração de recursos aquáticos, principalmente moluscos, mas também crustáceos e peixes.
Conhecem-se sítios antigos – entre 5 mil e 2800 anos de idade – na região do salgado, litoral norte do Pará.

Depois desta época, conhecem-se sítios deixados por populações também sedentárias que se dedicavam ao cultivo incipiente. Esses grupos permaneceram nos mesmos locais por algumas décadas e até centenas de anos. Eram sociedades que já produziam cerâmica e que se dedicavam provavelmente ao cultivo da mandioca e à pesca.

“Sítios desses tipos existem em quase todo o estado”, afirma Dra. Shaan. Essas sociedades simples, na verdade pequenos grupos autônomos, começaram, a partir de dado momento, a se expandir e multiplicar, vindos muitas delas, mais tarde, a se juntar em núcleos populacionais maiores. “E isto acontece na ilha de Marajó por volta do ano 500 d.C., e no baixo Amazonas mais ou menos ao redor do ano 1000 d.C. São sociedades que chamamos de ‘cacicados’, ou seja, sociedades organizadas em nível regional, subordinada à autoridade de um cacique principal”, diz a pesquisadora.

Grupos autônomos, sedentários, continuavam a existir nessa época, porém surgiram esses grandes aglomerados formando uma espécie de confederação de aldeias, sob o comando de um governo mais ou menos centralizado.

Desse período, restou uma maior produção objetos elaborados de cerâmica e pedra, o que evidência que desenvolviam uma série de atividades, “simbólicas”, como a realização de cerimônias funerárias e o culto aos mortos.E por quanto essas sociedades produziam uma grande quantidade de alimentos, passou-se a desenvolver também, uma divisão do trabalho entre seus membros.
Assim, com não havia necessidade de que todos os membros da sociedade se dedicassem tanto às atividades corriqueiras de subsistência, aumentando-se a produção de artefatos artísticos, que seriam usados em rituais, cerimônias e festas. Surge assim uma produção de cerâmica cerimonial bastante elaborada, como urnas funerárias cuidadosamente pintadas e decoradas.
Na ilha de Marajó, o mais conhecido exemplo desse tipo de sociedade, foi também desenvolvido um engenhoso sistema de controle hidráulico. Uma das características marcantes da ilha é que ela, durante uma época do ano, tem seus campos completamente alagados e, noutra, completamente secos. Como ali chove muito, praticamente 70 % dos campos ficam sob a água entre os meses de janeiro e maio, época da piracema.

Findo o período das chuvas, a água retorna ao leito dos rios, fazendo com que uma enorme quantidade peixes fique presa nas poças e lagoas que se formam. Os antigos marajoaras, diante disso, desenvolveram um sistema de controle, dessa água, escavando lagos artificiais – que retinham o peixe – e construindo barragens para armazenar a água de determinados rios.
A terra retirada na escavação dos lagos, era utilizada para construção de plataformas de terras que, na ilha, são chamadas de “tesos” ou “aterros”. Sobre os tesos, os índios, moravam, enterravam sues mortos e realizavam suas cerimônias e festas.

Existem centenas desses aterros na ilha. E em cada um desses grupos existem de 1 a 4 aterros cerimoniais, onde morava a elite; nos demais, habitava a população comum. Nos aterros onde ficava a elite eram, então, realizadas as cerimônias e enterrados os indivíduos do grupo. As urnas funerárias consistiam em grandes vasos de cerâmica trabalhadas, onde, além do corpo, eram depositados diversos objetos pertencentes ao morto, o que hoje possibilita aos pesquisadores avaliar a importância daquela pessoal na hierarquia social.

Muitos desses objetos, como aqueles feitos de pedra, por exemplo (machados, colares e adornos), eram obtidos através de trocas realizadas com populações distantes. Sabe-se disto porque na ilha, toda ela de formação sedimentar, não existem rochas.

Supõe-se, inclusive, que alguns desses objetos tenham vindo da região do rio trombetas, que também fica no Pará, ou da região sul do Estado.

Dentre as sociedades complexas existentes na região do estado do Pará, a mais antiga é, sem dúvida, a da ilha de Marajó, chamada cultura marajoara ou fase marajoara. Depois dela houve também outra região do rio Tapajós, cujo maior e principal cacicado se encontrava onde hoje existe a cidade de Santarém que, inclusive, foi construída sobre um Sítio arqueológico. Por isso, é comum as pessoas encontrarem em seus quintais vestígios de cerâmica e outros artefatos remanescentes daquela cultura.

Ana Roosevelt, arqueóloga norte-americana, neta do ex-presidente dos EUA Franklin Delano Roosevelt, pesquisou a região do porto de Santarém e descobriu que a localidade foi ocupada em torno do período de 1000 a 1500-1600 d.C. Os índios tapajós, que habitavam aquele local, chegaram a ser contratados pelos portugueses e espanhóis que fizeram as primeiras viagens ao longo do rio Amazonas. Porem, o mesmo não ocorreu com os marajoaras; além de se terem fixado no centro da ilha, os marajoaras na verdade, viram sua cultura declinar nos anos de 1300-1350, por razões ainda não conhecidas. Sabe-se, no entanto, que seus remanescentes chegaram a enfrentar os portugueses em diversos conflitos armados.



(Vaso em formato cilíndrico, pintado em vermelho e trabalhado pelo método de excisão da cultura Marajoara)

Esse período ao redor do ano de 1300, aliás, foi bastantes crítico para os marajoaras. Isto porque, ao mesmo tempo que sua cultura declinava, outras tribos indígenas vieram, do norte do Amapá, das Guianas, das ilhas próximas, e começaram a ocupar a costa de Marajó, entrando, em seguida, em conflito com os marajoaras.


Eram os aruás, que foram também contatados pelos holandeses e portugueses na boca do rio Amazonas.

Após as primeiras viagens de reconhecimento do rio Amazonas, as nações européias começaram a fazer comércio com os indígenas, inclusive os tapajós.


Os holandeses, por exemplo, comerciavam com os habitantes da região do Amapá e das Guianas. Após a fundação de Belém pelos portugueses, em 1616, com o intuito de assegurar o controle da região, no entanto, os contatos desses novos colonizadores com os índios cederam de forma belicosa, intimidadora. Com isso, o conhecimento que hoje se poderia ter dessas culturas, perdeu-se quase que por completo, lamentavelmente.


(Símbolos retirados da arte de Marajó)

As poucas informações que se tem sobre a ilha do Marajó foram deixadas pelos missionários, principalmente o Padre Antônio Vieira, que nos legou alguns relatos. E o que ele diz é que a ilha de Marajó era ocupada por várias tribos de nações diferentes. Talvez remanescentes desagregados da sociedade marajoara, como resultado do processo de invasão da ilha.

Quanto à cultura tapajônica, as informações disponíveis dão conta de que ela sofreu perseguições e, com as guerras travadas contra o homem branco e suas doenças, também se desestruturou ao longo dos anos.


Vaso de cariátides da cultura Tapajós em cerâmica (argila e cauixi-esponja de rio),
que lhe dão beleza e grande resistência

Os tapajós são descritos como uma sociedade igualmente organizada em torno de um chefe principal. Sua maior aldeia se localizava na atual cidade de Santarém, e sua população se estendia ao longo do rio Tapajós em direção ao Sul.


(Símbolos retirados da arte Tapajônica)
Sua economia era baseada na cultura do milho e da mandioca; as mulheres da tribo eram valorizadas, chegando a desempenhar papéis de importância; e seus mortos, ao contrário dos marajoaras, não eram enterrados, mas cremados, e suas cinzas recolhidas e misturadas a bebidas que, depois, eram consumidas pelos indivíduos da tribo.

Como não havia urnas funerárias, a cerâmica tapajônica era geralmente menor do que a marajoara, porém traziam representações humanas e de animais, combinadas.

Além dessas duas culturas, a marajoara e a tapajônica, havia também, ao longo do rio Trombetas, a cultura Konduri, que floresceu aproximadamente entre 1200 e 1400 D.C. Sua cerâmica é muito parecida com a tapajônica, apesar de ser menos elaborada.

Inúmeros sítios arqueológicos são encontrados no Pará, tais como Oriximiná e Porto Trombetas. No alto rio Xingu, por volta do ano 1000, existiu uma cultura chamada de Xinguana, que também vivia em cacicados dentro de enormes aldeias protegidas por trincheiras; nas regiões de São João do Araguaia e São Geraldo do Araguaia, próximas à divisa do Pará com Tocantins, existem gravuras rupestres; em Carajás, grutas guardam vestígios de antiga ocupação humana; na região do litoral salgado, existem sítios do tipo sambaqui que representam algumas das ocupações sedentárias mais antigas, de 4 a 5 mil anos atrás.

Fontes: Pará: Brasil: Turísticos, Ecológico e Cultural. São Paulo: Empresa das Artes, 2006.
www.viafanzine.jor.br/arqueologia4.htm. (Paraísos na Amazônia)

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