O Pará, assim como toda a Amazônia, está repleto de “cheiros vivos”, que integram a complexidade e a riqueza da biodiversidade brasileira e latina. Ativos da castanha, açaí e cupuaçu, por exemplo, são bastante utilizados para fazer cosméticos e também perfumes. Através da peculiaridade de cheiros como estes é possível definir a personalidade do povo da região.
Quem é capaz de desvendar o mistério dos cheiros é o profissional especialista em perfumes, o perfumista, profissional tão raro que, em todo o planeta, existem mais astronautas do que perfumistas. Verônica Kato, perfumista da Natura formada na Alemanha, é quem dá o parecer sobre o povo paraense: “Não há dúvida de que o povo paraense, pela sua riqueza de cheiros, é surpreendente, criativo e ousado, além de muito alegre e vibrante”, afirma Kato.
(Foto: Thais Rezende/G1 PA) |
O cheiro de uma pessoa traduz muito da sua personalidade. Acreditamos que perfumes provocam sensações e despertam os sentimentos mais verdadeiros, porque falam sem palavras. Nos reconectam com a nossa essência, aquilo que é simples, autêntico e realmente importante”, explica a perfumista.
O mistério dos cheiros
A perfumaria classifica os perfumes de acordo com o percentual de essência utilizado em sua composição. Os nomes são dados obedecendo o nível de concentração da essência e o poder de fixação à pele, o que determina também o tempo de proteção.
(Foto: Thais Rezende/G1 PA) |
Verônica explica em quais categorias se encaixam os cheiros típicos do Pará. “O patchouli enquadra-se na categoria dos amadeirados, que são marcantes e fortes, predominando notas quentes, como o sândalo e madeiras mais secas, como pinho, cedro e raiz de vetiver, uma erva aromática. Já a castanha, açaí e cupuaçu estão na categoria dos adocicados, que também são marcantes, combinando notas florais, frutais e cítricas”, analisa a perfumista.
Mas Kato alerta que o perfume ganha um cheiro diferente em cada pessoa. “É preciso estar atento ao fato de que uma mesma fragrância pode apresentar características distintas, dependendo da pele da pessoa. Isso acontece porque cada um de nós tem uma química própria, que interfere no perfume. Cada indivíduo possui seu próprio cheiro que varia de acordo com o tipo de pele, oleosa, seca ou normal”, diz. “De certa forma nós transpiramos o que comemos, se a alimentação for rica em pimentas ou peixes transpiraremos odores diferentes que irão compor o perfume que usamos. Por isso cada perfume tem seu próprio cheiro em cada pessoa”, completa a especialista.
Cheiros do Pará
Na maior feira livre da América Latina, o Ver-o-Peso, em Belém, há também quem entenda de cheiro. Beth Cheirosinha tem uma barraca há 46 anos, onde vende Cheiro do Pará, banho de cheiro, ervas e outros artigos da perfumaria que trazem, além do perfume, bons fluidos espirituais.
“As ervas atraem sorte, felicidade, saúde, levantam o astral, deixam a mente purificada e são muito cheirosas”, afirma Beth. Sem estudo específico para a profissão, Cheirosinha conhece o aroma de cada erva. “Para o banho de cheiro são usadas as seguintes ervas: manjericão, catinga de mulata, folha de chama, pataqueira, vin-de-cá, canela macho e abre caminhos da felicidade”, conta.
Todos os conhecimentos foram passados pela mãe de Beth, que recebeu de sua avó e assim tem sido há décadas. “Quem deu o nome das ervas foram os índios, meus avós são do interior e aprenderam com eles”, explica Beth.
No Ver-o-Peso, a garrafa de meio litro Cheiro do Pará, mistura de patchouli, pripioca, sândalo e colônia custa R$ 25 e dura aproximadamente 2 meses. Já o vidro pequeno custa R$ 4 e dura uns dois dias. “Nunca usei perfume Francês, eu só uso Cheiro do Pará e ninguém nunca reclamou, pelo contrário, só atrai”, brinca Beth Cheirosinha, se referindo aos seus amores.
O perfume ideal para o paraense
Segundo Verônica Kato, por ser uma região de clima quente e úmido, o ideal é que se opte sempre pelas fragrâncias mais leves e frescas, dando preferência para florais frescos, verdes e frutados, fougere fresco e marine, e chipre cítrico e frutado.
“Muitas empresas já apresentam a mesma fragrância com diferentes concentrações. Uma boa sugestão para os paraenses são os sprays corporais perfumados. Eles podem ser usados a qualquer hora do dia, pois completam a rotina diária de cuidados pessoais. Além de perfumar, prolongam a sensação pós-banho e mantém o cheirinho do hidrante na pele”, indica a especialista.
“Para manter o frescor, é importante saber que o perfume é como a maquiagem e, por isso, sempre que for necessário é preciso "retocá-lo", ou seja, passar mais um pouco no decorrer do dia. Uma boa dica é quanto à hidratação da pele, quanto mais hidratada, maior o tempo de permanência desta fragrância na pele, ou seja, passar hidratante antes de se perfumar pode ajudar”, orienta Kato.
G1Pa
Postar um comentário